Eu e os automóveis...

Nunca tive graves acidentes de carro, apenas três batidinhas de treta, em catorze anos de carta, o que me parece uma boa média. É certo que, uma delas foi com o carro da minha sogra, outra foi com um carro que andava a experimentar e que acabei por comprar (óbvio!) e apenas uma foi com o meu Ibiza. Dois dias antes de o ir entregar ao stand. Enfim... Na minha relação com automóveis, as crises são fúngicas. Literalmente. No meu primeiro carro, tinha uma cultura de cogumelos. Lindos, esguios, elegantes, com quinze centímetros de altura e que cresciam como se não houvesse amanhã, no chão do carro. Era um orgulho (o meu pai passava-se) e não deixava ninguém arrancar os meus cogumelos de estimação. Ontem, recebo uma mensagem da Marta: “Já viste como é que está o teu carro?” Medo. O meu primeiro pensamento passou por um assalto dentro da garagem. Não, não vi. Como? O que é que tem? Bolor. Muito bolor... Faço aqui, um parêntesis, para explicar que quase não preciso de tirar o carro da garagem. Não gosto muito de conduzir e tenho a sorte (e um bom marido) de não precisar de o fazer. Ah! E moro no “campo”, assim daqueles campos, com um microclima húmido. Muito húmido... E a Marta continua: nunca vi um carro assim, prepara-te... Ok. Preparo-me. Chegada à casa, tarde e cansadíssima, decidi ganhar coragem e ir ver o estrago. Abro a porta e aí estava ele. Volante, travão de mão, caixa de velocidades, tudo coberto por uma camada peluda de bolor branco. Os assentos tinham um novo padrão, bolinhas brancas e manchas escuras, num fundo cinzento. Com pontuais tufinhos de pêlo... Uma maravilha. Gelei. Fiquei a olhar para aquele espectáculo sem saber o que fazer... Decidi fechar a porta e ir jantar.